Vasco bate o martelo sobre perda de pontos por racismo
Na próxima semana, membros e dirigentes da CBF devem se reunir para discutir sobre a perda de ponto por casos de racismo entre torcedores e atletas nos campeonatos nacionais. A pauta começou a ser discutida após declaração do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
Segundo ele, apenas a punição desportiva num contexto de competição em que qualquer ponto pode significar título ou rebaixamento ajudaria a educar a torcedores e clubes de maneira geral. Em matéria publicada nesta sexta (10), o Globo Esporte fez um levantamento de quais foram os clubes brasileiros que se posicionaram à favor ou contra a possível medida.
Sem grandes surpresas, o Vasco se posicionou favorável a perda de pontos em casos de racismo no Brasileirão. Fluminense, América, Sampaio, Ponte e Náutico foram outros clubes que se posicionaram à favor. Atlético-GO, Bragantino, Santos, Chape, Criciúma, CSA e Tombense são contra. Os outros clubes não responderam.
Vasco foi pioneiro contra o racismo no futebol brasileiro
O Vasco da Gama é um dos clubes mais tradicionais do país, com mas de 120 anos de conquistas e glórias. Mas além dos feitos dentro das quatro linhas, o clube cruzmaltino também é conhecido por sua luta e participação em causas sociais, principalmente quando se diz respeito ao racismo. O Vasco é pioneiro na luta contra o racismo no futebol, e uma das principais ações do clube foi um movimento que ocorreu em 1924.
No dia 7 de abril daquele ano, o presidente do Vasco da Gama, José Augusto Prestes assinou um manifesto que ficou conhecido como a Resposta Histórica, comunicando que o clube se recusaria a disputar a divisão principal do Rio de Janeiro sem seus jogadores negros, exigência que havia sido imposta pelos dirigentes da época. A carta é tão emblemática para a história do clube que está exposta na sala de troféus em São Januário.
Nos primóridos, a equipe cruzmaltina era consolidada no remo – nos gramados, o destaque só veio no início da década de 20. Sem a mesma tradição e riqueza dos times da zona Sul do Rio, o clube montou um elenco com jogadores das classes sociais menos favorecidas: operários, choferes, pintores e faxineiros faziam parte da equipe campeã da segunda divisão em 1922. No ano seguinte, o cruzmaltino disputou a primeira divisão ao lado dos já consagrados América, Botafogo, Flamengo e Fluminense.
Mesmo sem favoritismo, o Vasco desbancou os times tradicionais e conquistou o título do campeonato. Incomodados pela ascensão vascaína, os times rivais decidiram criar uma nova liga, a AMEA. Além disso, deram ao Vasco o apelido de “Camisas Negras”, por conta da cor do uniforme e da a exigência de excluir 12 jogadores que, de acordo com os cartolas, não apresentavam “condições sociais apropriadas para o convívio esportivo”. O analfabetismo foi uma das razões enumeradas pela liga para desqualificar parte do elenco cruzmaltino.
Com isso, a diretoria Vascaína desistiu de integrar a nova liga e entregou a carta, que seria nomeada de “Resposta Histórica” aos cartolas rivais, rechaçando a ordem para abrir mão dos atletas negros e pobres. A AMEA admitiu o Gigante da Colina na liga apenas em 1925, por conta do sucesso de público, renda e repercussão dos “Camisas Negras”.
O Vasco também foi o primeiro clube esportivo no Brasil a ter um presidente negro: Cândido José de Araújo. Ele fico no cargo entre 1904 e 1906. Até hoje, o cruzmaltino realiza campanhas de igualdade social, e leva isto como um dos principais lemas do clube.